quinta-feira, 23 de junho de 2016

14 comprimidos pra voltar a ser feliz

Eu tenho um histórico de depressão. Acho importante já começar explicando isso: não foi a primeira vez que me vi afundando em crises de ansiedade e desconectada de boa parte da minha vida. Entre 2012 e 2014, passei um tempo vivendo a doença e acabei saindo sozinha dela, por sorte ou força de vontade, não sei.

O que aconteceu é que a depressão voltou este ano. Antes de março, já podia sentir que a vida estava se tornando um pouco mais difícil, mas não imaginava que isso seria o começo da instabilidade emocional que leva à apatia e à incapacidade de sentir. Entre abril e maio já era certo e perceptível: a velha companheira voltara para mais um passeio.


A novidade dessa vez foi que várias idas ao psicólogo, reprovações na faculdade e episódios de isolamento depois, minha família estava bastante atenta ao meu comportamento - assim como eu. Minha mãe resolveu agir antes de mim quando nós duas percebemos que eu estava em uma recaída... e acabei parando no psiquiatra.

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Quero dizer que sempre odiei a ideia de tomar qualquer remédio. Para mim, precisar fazer uso de uma droga significa que estou muito mal ou sem controle sobre a situação. Sou aquele tipo chato de gente que, em vez de tomar um comprimido, fica esperando pacientemente que a dor passe sozinha (um baita orgulho besta).

Se analgésicos me pareciam ruins, nem gosto de falar o que pensava sobre usar psicotrópicos. Por causa do óbvio preconceito que absorvi durante a vida inteira, "me tornar um zumbi feliz" estava completamente fora de cogitação; não podia aceitar que drogas impactassem diariamente minhas ideias, reações e comportamento.

Cheguei a mencionar que tenho um problema com controle? E que não suporto não entender e ser incapaz de manipular algum aspecto da minha vida? Então.

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Foi a pessoa mais magoada e irada possível que sentou na cadeira em frente ao psiquiatra. Eu tremia e lágrimas escorriam de raiva; precisei ser enganada para chegar até ali (é real, minha teimosia é absurda). Apesar disso, não consegui mentir para o médico e fui honesta sobre meu estado: a instabilidade emocional continuava a pesar sobre meus relacionamentos, desenvolvimento acadêmico e vida social. As coisas começavam a sair do controle mais uma vez. Acho que confessei a ele porque queria, talvez, que o médico me liberasse, que dissesse que eu poderia sair daquilo sozinha mais uma vez, não precisaria de remédio. Não foi assim.

Ouvi falar sobre a depressão de modo clínico, sobre as tendências da doença quando é como a minha (recorrente, e não causada por um fator isolado) e que era recomendável tomar "um remedinho depois do café da manhã pra ajudar a melhorar". Saí do consultório com uma caixinha contendo comprimidos para duas semanas - Exodus, 10mg, tarja vermelha. Oxalato de escitalopram, para os mais íntimos. Só prometi que pensaria a respeito.

Levei duas semanas pensando até me decidir e duas outras semanas se passaram depois disso. Hoje a primeira caixinha acabou. Rendi-me à droga e, bom, agora sou uma depressiva em tratamento.

Continuo com medo, mas agora consigo falar a respeito. Acho que tenho um ponto positivo aqui. 

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